O termo underground foi utilizado a partir de 1961, em uma proposta polêmica para reivindicar e deplorar esse caráter "subterrâneo" de filmes invisíveis nos circuito comercial padrão. Esse fenômeno foi considerado um verdadeiro movimento estético dos anos 1960 e agrupou praticamente todos os cineastas "experimentais" de alguma importância.
A estética underground não existe. Muitos cineastas que trabalharam com essa proposta nas décadas seguintes apresentaram estilos e preocupações bem diversas. A única característica compartilhada por todos é de ordem econômica: a recusa por circuitos de exibição tradicionais e o baixo orçamento de produção. Há também o atributo ideológico na busca por temáticas também "marginais", mostrando modos de vida minoritários – ainda que depois, quando entram em moda, tornaram-se visíveis e midiáticos. No meu podcast O Cinema Sallva, falei sobre esse movimento estético:
No Brasil o termo foi retomado, em uma homenagem um pouco irônica, pelo Cinema Marginal e o movimento "udigridi" (deformação semifonética da palavra inglesa, assinalando sua apropriação para um terreno socioestético bem diferente).
Dirigido pelos uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, Whisky (2004), foi realizado com apenas US$ 500 mil. Aborda a história de um dono de fábrica em Montevidéu que, ao receber o irmão em casa, simula um casamento com uma de suas funcionárias. Eles não se veem há décadas e o irmão chega para celebração judaica no túmulo da mãe. Nesta cena, vemos a chegada da funcionária na casa do patrão, onde lá eles fingirão o casamento.
Com roteiro e direção de Júlio Bressane, Matou a Família e Foi ao Cinema (1969) é um dos principais filmes do Cinema Marginal, movimento cinematográfico brasileiro entre os anos de 1968 e 1973 que pregava a contracultura através de ideais como a despreocupação, o grotesco, o carnavalizador e o paranóico. Filmado em apenas 12 dias e com baixo orçamento, o longa é um pastiche de cenas aparentemente não relacionadas entre si, desde crimes hediondos a duas amigas que tiram férias numa casa de campo. A única referência de fato ao título são as sequências iniciais, quando um rapaz de classe média baixa mata os pais a navalhadas e vai ao cinema.
Vício Frenético (1992), dirigido por Abel Ferrara, é centrado num tenente de Nova York (Harvey Keitel) viciado em drogas e em jogo. Dois acontecimentos acontecem e ele tem a chance de redenção: um jogo de baseball, pelo qual aposta e arrisca a própria vida, e um trágico estupro de uma jovem freira. Nesta cena, vemos o caminho de redenção do tenente pelo filtro da crença católica. O orçamento estimado do filme foi de US$ 1 milhão e arrecadou mais de US$ 4 milhões nas bilheterias pelo mundo.
O primeiro longa dirigido por Kiko Goifman é o documentário 33 (2002). Narra a busca pessoal do diretor para encontrar sua mãe biológica. Sabendo ser filho adotivo, Kiko, aos 33 anos, propõe um método de investigação num prazo de 33 dias. Nesta cena, ele descreve o método em off.
4 Filmes de Baixo Orçamento
1. Matou a Família e Foi ao Cinema, Júlio Bressane (BRA, 1969)
2. Vício Frenético, Abel Ferrara (EUA, 1992)
3. 33, Kiko Goifman (BRA, 2002)
4. Whisky, Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll (URU, 2004)
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