
Lá pelo final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, Hollywood era o destino certo para um jovem que fosse ambicioso e tivesse talento. O buchicho em torno dos filmes atraía a geração baby boom para as escolas de cinema. Todo mundo queria entrar na onda. Andy Warhol, por exemplo, preferia fazer cinema a reproduzir latas de sopa Campbell. Astros de rock como Bob Dylan, Mick Jagger e os Beatles mal podiam esperar para estar na frente e, no caso de Dylan, atrás das câmeras. Foi também uma época em que a cultura do cinema permeava a vida americana como nunca havia acontecido, em que ir ao cinema, pensar sobre cinema, falar sobre cinema tornou-se uma verdadeira paixão entre estudantes universitários e outros jovens. Eles se apaixonavam não pelos atores, mas pelo próprio cinema.
De repente exista um movimento – rapidamente batizado de Nova Hollywood pela imprensa – liderado por uma nova geração de diretores. Coletivamente, eles tinham mais poder, prestígio e dinheiro do que nunca. Os diretores da Nova Hollywood assumiram o manto do artista e não hesitavam em desenvolver os estilos pessoais que os distinguiam de outros diretores. A primeira geração trazia homens brancos nascidos do meio para o fim da década de 30 e incluía Francis Coppola, Stanley Kubrick, Dennis Hopper, Mike Nichols, Woody Allen e Robert Altman. A segunda geração era composta dos primeiros baby boomers, nascidos durante e após a Segunda Guerra Mundial, a geração das escolas de cinema. Esse grupo incluía Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Brian De Palma e Terrence Malick.
Esses diretores produziram um bloco de filmes arriscados e de alta qualidade, que eram impulsionados por seus personagens e não pela trama, que desafiavam as convenções tradicionais de narrativa, que desafiavam a tirania da correção técnica, que quebravam os tabus da linguagem e do comportamento e que ousavam ter finais felizes. Eram filmes frequentemente sem heróis, sem romance, sem alguém "por quem torcer". Essas obras mantêm intacto seu poder de perturbar. Pense numa cena como aquela em O Exorcista (The Exorcist, 1973), quando Regan enfia o crucifixo em sua vagina. WOW!
Lá atrás, nos anos 1930 e 1940, o produtor contratado pelo estúdio era a única pessoa que via todo filme do começo ao fim. O diretores, igualmente assalariados, estavam no set apenas para garantir que os atores ficassem nos lugares certos quando a câmera começasse a rodar. Eles saíam da produção assim que as filmagens terminavam, pois estavam num escalão abaixo, pouco coisa acima dos roteiristas.
Os cineastas dos anos 1970 pretendiam derrubar os estúdios, ou pelo menos torná-los irrelevantes, por meio da democratização do processo de fazer filmes. A Nova Hollywood durou pouco mais que um década, mas, além de nos legar um conjunto de filmes históricos, ensinou muito sobre como Hollywood funciona hoje e por que ela vive num estado permanente de crise e baixa autoestima.

A Nova Hollywood durou pouco mais que um década, mas, além de nos legar um conjunto de filmes históricos, ensinou muito sobre como Hollywood funciona hoje e por que ela vive num estado permanente de crise e baixa autoestima. Uma obra que tenta olhar os dois lados da equação, o mercado e arte – o homem de negócios e o artista –, e que aprofunda esse contexto histórico é Como a Geração Sexo Drogas e Rock'n'Roll Salvou Hollywood, de Peter Biskind.