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Um filme incomum para o anos 1980.


blog O cinema Sallva, junho 2021, Procura-se Susan Desesperadamente

Em 1984, uma diretora de cinema promissora chamada Susan Seidelman estava em busca de uma atriz coadjuvante para o filme Procura-se Susan Desesperadamente (EUA, 1985), uma comédia sobre a dona-de-casa Roberta Glass, que, entediada e cheia de curiosidade, passa a perseguir Susan, uma garota punk, encrenqueira, que coloca um intrigante anúncio nos classificados de um jornal. Ao ser envolvida num assassinato e em algumas confusões, Roberta transforma a própria vida, passando a viver mais ao estilo de Susan.

Era um filme incomum para o anos 1980. Ao passo que colocava duas mulheres de astral positivo como protagonistas, os papéis femininos de Hollywood eram geralmente os de esposas ou namoradas dos heróis masculinos, e havia pouca representação da realidade feminina no dia-a-dia. Falei sobre o longa no meu podcast O Cinema Sallva:



Procura-se Susan Desesperadamente não era só um filme para o público feminino, foi um dos primeiros filmes dirigidos por mulheres que conseguiu entrar no circuito comercial do mercado cinematográfico.


Estudante de moda na Filadélfia, Seidelman completou a graduação na escola de cinema da Universidade de Nova York, no final dos anos 1970. Ela estudou cinema num período conturbado. Nova York estava passando por uma crise econômica extremamente prejudicial à cidade, porém benéfica ao universo das artes. O ambiente era propício e o universo do cinema punk independente emergiu daí.


blog O cinema Sallva, junho 2021, Procura-se Susan Desesperadamente

Foi assim que ela fez seu primeiro filme de baixo orçamento, Smithereens (EUA, 1982), que tratava de uma fã da banda punk The Voidoids e suas aventuras na região Downtown, em Manhattan, Estados Unidos. Selecionado para o festival de Cannes em 1982, a obra colocou a diretora no mapa como uma promessa para o futuro. O resultado veio rápido: ela recebeu dúzias de roteiros, mas só um de fato a interessou: Procura-se Susan Desesperadamente, escrito por Leonora Barish. O roteiro trabalhava com uma fantasia sobre sair de um mundo e passar para outro, sobre quem somos do lado de fora e sobre o queremos ser por dentro.



O roteiro também apontava para as preocupações das mulheres jovens da década de 1980. A personagem Roberta era o estereótipo de uma mulher que assume as rédeas de seu próprio destino, e não se adequa mais ao padrão da dona-de-casa com marido e filhos. O roteiro condizia com as ideias feministas da época.


Quando chegou o momento de escalar o elenco, Rosanna Arquette foi escolhida para o papel de Roberta. Ela era uma jovem estrela. Encontrar Susan, contudo, foi difícil. Muitas atrizes em início de carreira fizeram teste para o papel, entre elas Melanie Griffith, mas nenhuma delas parecia a ideal para o personagem. Seidelman foi procurar no cenário musical de Nova York e assim viu Madonna, que, na época, eram vizinhas de rua. Isso foi antes de Like a Virgin, quando a cantora ainda era relativamente desconhecida. O estúdio queria manter o filme com o orçamento modesto de seis milhões de dólares, mas – ao que dizem – o que realmente contou a favor de Madonna foi o fato de o filho do dono do estúdio ter visto o clipe de Lucky Star na MTV e ter achado a cantora "gostosa".

As filmagens começaram em setembro de 1984 e com um set de filmagem relativamente tranquilo. No início há uma cena de Madonna andando pela St. Mark' Place, no East Village, Estados Unidos, indo vender sua jaqueta em um brechó. Como ela ainda não era famosa, a equipe de filmagem não necessitava de guarda-costas, agentes e produtores. Era tudo natural. Já no final das filmagens, o álbum Like a Virgin tinha já estourado e a equipe simplesmente não pôde mais filmar nas ruas sem um esquema para controlar a multidão.



A preocupação com os detalhes é uma marca do longa. Na cena inicial, Roberta está num belo salão de beleza, no dia de seu aniversário, rodeada por manicures e cabeleireiros. Filmada pelo cameraman Ed Lachman, com o uso de uma gelatina cor-de-rosa (técnica revolucionária para a época), a sequência exibia um mundo feminino retrô. Cortava-se, então, para uma cena de Susan estourando bolas de chiclete e tirando fotos polaróides de si mesma num quarto de hotel. A câmera passeia por suas luvas de meia arrastão, pela jaqueta customizada, por suas pulseiras e por uma caixa de chapéu cheia de bugigangas características de pessoas urbanas e cosmopolitas que andam pela cidade sem rumo. É essa preocupação com o detalhe que dá autenticidade ao filme e que fala de modo preciso e direto com o público feminino.



O figurino de Susan foi baseado nas roupas que Madonna já usava. O filme também dava destaque à música pulsante Into the Groove, que já era um hit na época. Embora as críticas de que Madonna tenha feito uma interpretação meramente de si mesma, Seidelman conseguiu extrair o que tem sido amplamente reconhecido com a melhor atuação da cantora até hoje no cinema.

Quando o filme foi lançado, oito meses depois, o circo em volta de Madonna já estava armado, o que irritou Rosanna Arquette. No início do projeto, ela era a estrela de que o filme precisava para dar a partida. Quando as filmagens terminaram, a imprensa só falava no "filme da Madonna". O lançamento de Procura-se Susan Desesperadamente coincidiu com a turnê mundial de Like a Virgin, quando muita gente a veria ao vivo pela primeira vez.


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Minha fonte de pesquisa para filme foi o livro Madonna: 50 anos, escrito por Lucy O'Brien.




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