O Rei da Noite (BRA, 1975) é o filme de estreia de Hector Babenco na direção. Estrelado por Paulo José no papel de Tertuliano, vulgo Tezinho, o ator foi premiado no 9º Festival de Cinema de Brasília, em 1976.
Nesta entrevista, Babenco confidencia a necessidade de adequar-se ao cinema brasileiro da época. Por ser agentino, ele buscava a inserção na cultura nacional através do longa. No entanto, ele mesmo admite que não conseguiu tal feito.
Diante do contexto político de ditadura, emergia no diretor o desejo de fazer um filme que dialogasse com o público. Ele via o cinema brasileiro amordaçado, citando Nelson Pereira dos Santos e Walter Lima Jr, como expoentes de filmes metafóricos, quais o público não se identificava. Logo, Babenco buscou uma linguagem popular ao filme para apresentar-se ao mercado brasileiro através do melodrama.
Abaixo, eu escolhi quatro cenas de O Rei da Noite para exemplificar a gramática audiovisual do filme. Tem um pouco de elipse, montagem paralela e off. As cenas estão disponíveis no meu Twitter.
Nesta sequência de 1'34'' de duração, Tezinho (Paulo José) e Aninha (Dorothée Marie Bouvyer) estão apaixonados. Eles correspondem-se por cartas. O recurso de off é empregado em dois momentos: primeiro, quando Aninha entrega uma carta a Tezinho, e depois, quando ele a responde com outra carta.
Esta cena de 46" merece destaque por denominar o título do filme. Tezinho está no bar e avista pela primeira vez Pupe (Marília Pêra). Obstinado por ela, Tezinho proclama-se "Rei da Noite" ao descobrir que Pupe é chamada de "Rainha da Noite".
Nesta cena de 1'28'', Tezinho está no bar a espera de Pupe. Ao chegar, ele a convida para um programa, mas Pupe recusa. Tezinho propõe uma alternativa. Pupe aceita e ele, feliz da vida, pede um conhaque ao garçom enquanto espera por ela. A elipse é estabelecida logo em seguida: vemos Tezinho dormindo em cima de uma mesa com várias taças de bebida e bitucas de cigarro em volta. Corta para um plano aberto, onde vemos que ele está sozinho no bar, enquanto é acordado pelo garçom.
Nesta cena de 1'38'', Sinhá (Márcia Real) deixa sua filha Maria das Dores (Cristina Pereira) a sós com Tezinho. Enquanto ela toca violino, sua mãe vai para outra sala. A montagem paralela é empregada: enquanto Sinhá conversa sozinha com o seu ex-marido, cuja foto está emoldurada ao fundo, Tezinho agarra Maria das Dores, pedindo para que ela não pare de tocar violino. Portanto, enquanto a mãe aspira um relacionamento carola para a filha, vemos que Tezinho tem outras intenções veladas.
O Rei da Noite (BRA, 1975)
1h36min
roteiro Orlando Senna
direção Hector Babenco
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