A possibilidade de discrepâncias entre tempo da história e tempo da narrativa é peculiar no cinema. Sendo a ordem dos planos de um filme indefinidamente modificável, ou seja, não necessariamente linear, é possível fazer suceder a uma sequência outra que relata acontecimentos anteriores. É quando o termo "voltar atrás" (no tempo) é empregado.
Essa figura narrativa, popularizada pela palavra inglesa flashback, é a mais banal e consiste em apresentar a narrativa em uma ordem que não é a da história. No entanto, há outras formas análogas como o "salto busco para a frente", mais conhecida como flash-forward, em que uma sequência relata acontecimentos posteriores àqueles de suas sequências que cercam.
Falei sobre flashback no meu podcast O Cinema Sallva, ouça abaixo:
Blue Jasmine (2013), escrito e dirigido por Woody Allen, apresenta uma cadência narrativa híbrida de cenas no presente e flashbacks para mostrar como Jasmine, papel de Cate Blanchett, viveu na alta sociedade até falir. Nesta cena, a protagonista surtar na rua ao recordar o passado dela.
Minha Mãe é Uma Peça (2013), dirigido por André Pellenz, apresenta Dona Hermínia
– papel do saudoso Paulo Gustavo – uma caricata mãe do tipo que reclama e fala o tempo todo. A história dela é contada no ritmo de flashback, quando Dona Hermínia vai visitar uma tia. Assista aqui a uma das muitas sequências de flashback do filme.
Outro longa que explora a contação de história com uso de flashbacks é Lua de Fel (1992), escrito e dirigido por Roman Polanski. Dois casais se conhecem num cruzeiro marítimo. Ao perceber que Nigel (Hugh Grant) está interessado por sua esposa Mimi (Emmanuelle Seigner), o escritor Oscar (Peter Coyote) decide contar a Nigel sua história de paixão por sua mulher. Assista aqui ao momento quando Oscar relembra como conheceu Mimi.
Já Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Goundry, apresenta a história de um casal que tenta apagar todas as memórias do relacionamento que eles tiveram. Com um narrativa não-linear, a obra explora não só flashbacks como flash-forwards. Assista aqui a uma das sequências de flashbacks do longa.
De um modo geral, há três grandes categorias de relações temporais na montagem: a simultaneidade, o salto para o passado (flashback) ou para o futuro (flash-forward) e a "indiferença" temporal. São recursos úteis para rearranjar a cronologia do tempo de narrativa de um filme.
4 Filmes com Flashbacks
1. Lua de Fel, Roman Polanski (USA-FRA-UK, 1992)
2. Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Michel Gondry (USA, 2004)
3. Blue Jasmine, Woody Allen (EUA, 2013)
4. Minha Mãe é Uma Peça, André Pellenz (BRA, 2013)
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