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Como conduzir uma entrevista para documentário?

  • Foto do escritor: Fabio Sallva
    Fabio Sallva
  • 25 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de mar.


blog O Cinema Sallva, março 2025, Como conduzir uma entrevista para documentário?
Fabio Sallva durante as filmagens de "Lobão – Não Há Estilo Sem Fracasso", em 2010.

Em 2011, eu me formei em Cinema na FAAP. Meu trabalho de conclusão de curso (TCC) foi um documentário em formato de curta-metragem chamado Lobão – Não Há Estilo Sem Fracasso, sobre a indústria fonográfica no Brasil a partir de um recorte artístico dos anos 1980 do músico, compositor e cantor Lobão.


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Minhas pesquisas para o documentário "Lobão – Não Há Estilo Sem Fracasso".

Para realizar o filme, eu entrevistei cerca de 15 pessoas além do próprio Lobão: os produtores musicais LiminhaMarcelo Sussekind e Pena Schmidt, os músicos Edgard ScandurraArnaldo Brandão e Ivo Meirelles, entre outros. Mas quero me ater aqui à entrevista com o saudoso jornalista Claudio Tognolli, que nos deixou em março de 2024.


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A biografia de Lobão, lançada em 2010.

Ao contrário do que dizem, Tognolli não foi co-autor da autobiografia de Lobão, Cinquenta Anos a Mil, mas o encarregado de colher depoimentos e reunir documentos judiciais para a obra. Eu tive a oportunidade de conversar com ele, meses antes do lançamento do livro, em setembro de 2010, em sua residência, em São Paulo. Embora Tognolli não escrevera a biografia, era óbvio que ele pesquisara a vida de Lobão e, portanto, era um cara preparado para aprofundar temas como a vida íntima e artística dele.


O jornalista ganhou notoriedade pública em 1998, quando denunciou à revista Caros Amigos (edição de março) a existência de uma "máfia do dendê". Ele escreveu na ocasião:


"(...) A tal máfia seria o nada sutil controle exercido por Caetano, e sua turma de baianos que gostam de cantar na televisão, sobre cadernos culturais brasileiros, ditando pautas e opiniões. Quem fala muito mal deles em grande órgão de imprensa não dura. (...) O pagamento da Máfia do Dendê não é em dinheiro, é com uma aura de glamour e convívio.”

Já sabendo o repertório crítico dele, eu preparei uma pauta em que Tognolli pudesse discorrer livremente sobre minhas proposições. Comecei perguntando como Lobão se emancipou de casa para trabalhar como músico:


Nos anos 1970, o Vímana foi a primeira banda que Lobão integrou. Era um conjunto formado por músicos que anos depois destacariam-se no mainstream brasileiro como Ritchie e Lulu Santos. Perguntei a Tognolli por que a banda não vingou:



Após a saída do Vímana, Lobão vira "o menino prodígio" no Rio de Janeiro, pois era um excelente baterista. Quem o projeta para o mainstream é a cantora Marina Lima, relato que Tognolli discorre aqui:



A carreira artística de Lobão é tumultuada. Após a projeção de Marina Lima, em 1981, ele entra para a Blitz, banda cujo vocalista era Evandro Mesquita. Na iminência do sucesso, Lobão decide não continuar mais na banda. Em 1982, ele lança o seu disco de estreia, Cena de Cinema. Contudo, por divergências com a gravadora, o disco é boicotado. Lobão parte para mais uma empreitada artística: funda Lobão e Os Ronaldos, banda que também não dá certo. Perguntei a Tognolli se essa história predecessora de Lobão já não apontava ali uma tendência individualista dele e, por conseguinte, a fama de maluco que ele carrega:




Em 1987, Lobão é preso por porte de drogas passando três meses na cadeia, período em que finaliza o disco de maior sucesso comercial de sua carreira: Vida Bandida. Perguntei ao jornalista os motivos que o levaram à prisão:



No final de 1988, Lobão, que aguardava em liberdade o julgamento de um habeaus corpus, foi condenado a cumprir nove meses de prisão em regima semi-aberto, veredicto dado pela Justiça em processo movido contra o cantor, acusado de porte de drogas em 1987. Lobão planejava trabalhar em um novo álbum que contaria com a produção de Liminha, que na época morava em Los Angeles, nos Estados Unidos. Esse disco viria a ser Sob Sol de Parador, lançado em 1989. O músico, contudo, não podia deixar o Brasil sem anuência da Justiça, então ele prepara uma fuga: aluga um carro, dirige-se a Paso de los Livres, cidade fronteira entre Brasil e Argentina, e parte para a capital portenha, de onde pegaria o voo para os Estados Unidos:



Mesmo atualmente, Lobão ainda é crítico às produções musicais dos anos 1980 a ponto de algumas vezes renegar, publicamente, essa década. Pedi a Tognolli para analisar esse ponto de vista:



Mantendo a estratégia de abordar apenas o recorte artístico dos anos 1980, decido encerrar a entrevista com uma última análise histórica: o episódio das latas e vaias da qual Lobão foi vítima no Rock in Rio de 1991. Para mim, marca o ciclo artístico oitentista de Lobão, que terá um breve período de ostracismo nos anos seguintes para, em 1995, ressurgir com o disco Nostalgia da Modernidade, exprimindo uma nova atitude musical-política para as décadas seguintes:



A entrevista completa com Claudio Tognolli durou 32 minutos. Esqueci de mencionar que conduzi esse papo com nós dois o tempo todo de pé, pois a ideia era obter respostas mais concisas e não tomar tanto tempo do entrevistado. Acho que o meu objetivo de certo. Você pode assistir à conversa na íntegra em meu canal no YouTube:



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