A citação é a reprodução de um texto preexistente. Ela se distingue do plágio, que é a atribuição a uma fonte anterior, da colagem, procedimento estético que implica a generalização da citação, e da alusão, em que a referência à obra anterior é elíptica.
No cinema, a citação tem origem diversa, já que o filme pode citar palavras e frases, imagens e quadros, músicas ou temas, e outras obras de toda natureza: romances, peças de teatro, filmes. Falamos sobre remakes no nosso podcast O Cinema Sallva, ouça abaixo:
Citações pontuais, por exemplo, fazem uma referência a uma obra anterior. Também chamadas de easter eggs, essa expressão é utilizada para aludir a referências e a homenagens escondidas nas obras. Veja o caso de It, A Coisa, cujo personagem Eddie Kasprak usa uma camiseta com a estampa de um veículo. Trata-se de Christine, o famoso carro assassino que protagoniza o filme de John Carpenter. Ambas as obras são baseadas em contos de Stephen King.

A citação também distingue-se do remake, filme cujo roteiro é próximo de uma obra precedente. Esse termo é difícil de ser definido com precisão, pois alguns remakes podem se apresentar como citações integrais do modelo anterior; já outros estabelece uma relação menos de "refação" e mais de adaptação. Neste modelo de remake cada obra reivindica sua autonomia.

No quesito adaptação enquadra-se RoboCop, de José Padilha. Enquanto na versão original de 1987, dirigida por Paul Verhoeven, o elenco é mais original – sem a presença de celebridades – o diretor brasileiro foi obrigado a inflar o enredo com atores famosos como Samuel L. Jackson, Michael Keaton e Gary Oldman. Outro contraste é a influência dos produtores, que exigiram que Padilha baixasse a classificação indicativa do filme. O resultado é a diminuição de cenas de extrema violência gráfica. As sátiras presentes no longa de Verhoeven foram substituídas na adaptação por críticas políticas contemporâneas, através de um ambiente global vigiado por drones e câmeras, onde é possível coletar dados particulares por agências governamentais. Por fim, a ação desenfreada do longa de 1987 é alterada por um enfoque no drama pessoal do policial Alex Murphy, que na refilmagem encara o fato de se aceitar como máquina.
Nada a Esconder, de Fred Cavayé, é uma refilmagem francesa da comédia italiana Perfetti Sconosciuti, de Paolo Genovese. Um exemplo clássico de remake, onde o roteiro e a decupagem são similares com diferenças pontuais de casting e direção de arte.
Depois de ser lançado na Itália, o longa de Genovese ganhou versões em vários países como México, com o título Perfeitos Desconhecidos, de Manolo Caro, na Espanha com Perfectos Desconocidos, de Álex de la Iglesia, além da versão francesa supracitada. Todos estão disponíveis para assistir na Netflix. Há rumores de que a obra ganhará em breve uma versão brasileira com distribuição da Sony Pictures.
Um dos filmes mais famosos de todos os tempos e possivelmente a maior referência na história do cinema de terror, Psicose, de Alfred Hitchcock, levou a três "continuações", sendo uma delas o remake de Gus Van Sant em 1998, que procurava repetir o original quadro a quadro, uma experiência com cores que empalidece ao ser comparada com o filme em preto-e-branco de Hitchcock.
O brutal e provocador Violência Gratuita, de Michael Haneke, ganhou um remake 10 anos depois pelo próprio diretor. A versão original, produzida na Áustria em 1997, foi refilmada nos Estados Unidos com estrelas como Naomi Watts, Tim Roth e Michael Pitt. Todos os planos aqui são refeitos, inclusive a emblemática cena quando Haneke interrompe o fluxo da narrativa, permitindo a um dos personagens "voltar" o filme e recontar a história, forçando-nos a contemplar a ausência de sentido na violência aleatória.Keep on!
4 Remakes e Adaptações

1. Psicose, Gus Van Sant (EUA, 1998)
2. Violência Gratuita, Michael Haneke (EUA, 2007)
3. RoboCop, José Padilha (EUA, 2014)
4. Nada a Esconder, Fred Cavayé (FRA, 2018)