Ilustração por Paranauê PB, by Anna Silveira
O melodrama é um termo da história do teatro, que designa originalmente uma espécie de drama falado e cantado. No fim do século XVIII esse gênero distinguiu-se da ópera e ganhou um sentido mais especializado: "drama popular que acentua os efeitos patéticos, salientado por uma música expressiva".
Desde o início do século XX, o cinema aglutinou o repertório do melodrama a partir de alguns traços constantes:
– uma ação intensa, fundada em acontecimentos violentos: raptos, assassinatos, sequestros, usurpação de bens ou de identidade etc.;
– uma estrutura narrativa simples, opondo a inocência perseguida e uma força do mal que oprime, com personagens-tipo: a moça pura, a criança inocente, a esposa virtuosa, o traidor, a megera, o aristocrata egoísta e cúpido;
– uma intriga com muitos saltos, no mais das vezes fundada em desconhecimentos ou confusão de identidade;
– um estilo voluntariamente enfático, às vezes grandiloquente, no limite da paródia.
Falamos sobre melodrama no nosso podcast O Cinema Sallva, ouça abaixo:
Do ponto de vista estético, o melodrama pode acontecer na distância que o autor escolhe para gerar os estereótipos narrativos com os quais ele lida. Ele pode assumi-los e lançar mão do lirismo e do sublime, ou transformá-los e desconstruí-los, através do distanciamento.
Central do Brasil (1998), com direção de Walter Salles, narra a história de Dora (Fernanda Montenegro), ex-professora trambiqueira que ganha a vida escrevendo cartas para analfabetos na estação ferroviária Central do Brasil, é uma figura desiludida, típica brasileira. Josué (Vinícius de Oliveira), é um garoto arredio, embrutecido, acostumado a desconfiar dos outros. No entanto, ao longo da viagem que farão Nordeste adentro em busca do pai do menino, Josué e Dora iniciam uma profunda amizade e conhecem um Brasil onde a vida transcorre em ritmo mais natural. Para exemplificar o quão esta obra trabalha o melodrama nós selecionamos a cena quando Josué perde a mãe num acidente de trânsito. Você pode assistir no nosso Twitter aqui.
O primeiro filme dirigido por Frank Capra e realizado no pós-guerra é A Felicidade Não Se Compra (1947). A obra enaltece a bondade das pessoas comuns e o valor dos sonhos humildes, mesmo que eles não se tornem realidade. Um exemplo de melodrama é a cena quando o menino George, de 12 anos, impede que o farmacêutico Sr. Gower envenene acidentalmente uma receita. Você pode assistir aqui.
O thriller policial Uma Criança Por Testemunha (1988), escrito e dirigido por Eric Red, também apresenta sequências de melodrama. Dois assassinos profissionais são contratados para um novo trabalho que é raptar Travis (Harley Cross), um garoto de 9 anos, testemunha chave do FBI contra um chefão da máfia. A cena final do longa é um exemplo de ação intensa típica de melodrama quando um dos assassinos é encurralado de forma fatal pela polícia e usa a criança como refém. Assista aqui.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002), dirigido por Jean-Pierre Jeunet, é um melodrama que conta a história de Amélie (Audrey Tautou), uma mulher que desde a infância cresceu isolada das demais crianças. Certo dia, ela encontra no banheiro do apartamento onde mora um caixinha de um antigo morador do apartamento. Ela decide procurá-lo e entregar a relíquia de maneira anônima ao seu dono. A cena, que você pode assistir aqui, é um exemplo de estrutura narrativa simples com personagens-tipo, que caracteriza um melodrama.

4 Melodramas

1. A Felicidade Não Se Compra, Frank Capra (EUA, 1947)
2. Uma Criança Por Testemunha, Eric Red (EUA, 1988)
3. Central do Brasil, Walter Salles (BRA, 1998)
4. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet (FRA, 2002)