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Os melhores diálogos do cinema

Um bom roteirista não é necessariamente um bom escritor, mas aquele que sabe traduzir, com racionalidade e clareza, o seu pensamento visual. O único lugar onde o roteirista pode ser mais ou menos poético, onde é possível amalucar um pouco, é nos diálogos. Por causa de roteiros capengas e de diálogos primitivos, boas histórias se perdem num relance.

A tecnologia hoje impactou diretamente nos diálogos. Na televisão de baixa definição, por exemplo, tinha-se de se apoiar nos diálogos, usar mais close, pela incapacidade de dizer coisas através de um plano geral longo. As câmeras usadas para fazer TV atualmente são exatamente as mesmas do cinema, logo, é possível confiar e apostar nas imagens e no diálogo para contar uma história. De um lado, diálogos passaram a conter mais significado do que a expressão no rosto dos atores, tornando desnecessária a aproximação da câmera. De outro, a televisão roubou o close para si, não por motivos estéticos ou filosóficos, mas pragmáticos: as telas pequenas exigem tomadas de perto. Nós falamos sobre esse assunto no nosso podcast O Cinema Sallva, ouça abaixo:

Em Loucos de Paixão, dirigido pelo mexicano Luis Mandoki, temos um conto de fadas amargo e melancólico que conta o relacionamento entre um judeu yuppie de 27 anos, bem-sucedido (James Spader) e a garçonete de 43 anos, divorciada (Susan Sarandon). Entre eles ruge uma paixão cheia de sexo, mas muito dificultada pela diferença social e cultural. Brigas cada vez mais intensas, incompreensões e intolerâncias marcam o casal. Ele sublima a inadequação cultural, mas ela sofre com essa inferioridade e reage com grande agressividade, até mesmo às pequenas questões. Numa delas em que ele, para protegê-la, omite certa circunstância, ela descobre e, furiosa, dispara:

Em Filadélfia, dirigido pelo saudoso Jonathan Demme, temos o advogado Joe Miller (Denzel Washington), que tem pela frente uma difícil causa para defender. Seu cliente, o também advogado Andrew Beckett (Tom Hanks), foi despedido por discriminação de doença de uma poderosa firma de advocacia na qual trabalhava com relevante competência. Sabe que ao processar essa firma estará se baseando em fatos subjetivos, já que a alegação da parte contrária é que a dispensa se dera por incompetência profissional, baseada no sumiço de importante documento. Sabe também que isso foi uma armação, mas, como provar? É ciente de que o júri, assim como ele antes pensava, têm olhar torto para gays. Contudo, conhecendo um pouco mais de seu cliente, motivou representá-lo pela dignidade, honestidade e respeito. No tribunal, nas várias sessões, os debates não mostram tendência de qual será o veredito, dada a complexidade do caso. Eis um dos debates:

Em Perto Demais, com direção de Mike Nichols, a yuppie americana Alice Ayres (Natalie Portman), sem destino ou objetivo, desembarca em Londres. Voluntariosa, confiante de si, perambula pelas ruas. Desligada que é, esquece as mãos da direção invertidas e ao atravessar a rua... Bum!... Cai atropelada por um caminhão. Sem fraturas, mas semiconsciente, é socorrida pelo inglês Daniel Woolf (Jude Law) que a leva para o hospital ainda zonza. Lá se refaz aos poucos. Daniel volta ao hospital e lhe pergunta:

Em Flores Partidas, dirigido por Jim Jarmusch, temos o cinquentão e solteiro convicto Don Johnston (Bill Murray), que recebe uma carta anônima informando ter um filho de 19 anos. Não há qualquer pista de quem o remeteu. O vizinho de Don o incentiva a descobrir a identidade da mãe e, consequentemente, do filho desconhecido. Namorador que sempre foi, parte em viagem pelos Estados Unidos ao reencontro das ex-namoradas. Uma delas é Laura (Sharon Stone), mas ao bater em sua porta, é recebido pela filha dela, Lolita (Alexis Dziena), uma adolescente rebelde que se diverte em chocar as pessoas, e que convida Don a entrar e esperar por sua mãe. Laura chega e, entusiasmada com aquela inesperada visita que não via há muitos anos, convida-o para o jantar. As duas, à mesa, perguntam a Don por que ele veio visitá-las, ao passo que ele responde e reitera o motivo no dia seguinte:


4 Filmes com Diálogos Inteligentes

1. Loucos de Paixão, Luis Mandoki (EUA, 1990)

2. Filadélfia, Jonathan Demme (EUA, 1993)

3. Perto Demais, Mike Nichols (EUA, 2004)

4. Flores Partidas, Jim Jarmusch (EUA-FRA, 2005)

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