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Retrato de uma geração de mulheres.


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Como Nossos Pais (BRA, 2017), escrito e dirigido por Laís Bodanzky, partiu de um desejo pessoal da diretora de retratar uma geração de mulheres, a qual ela se inclui, submersas em muitos papéis. Nesta entrevista, Laís explica essa fase "sanduíche da vida", quando a mulher concilia duas gerações: uma a partir da própria família construída com filhos e a outra, dos pais ainda vivos.

Luiz Bolognesi, que também assina o roteiro, foi marido de Laís. Na época os dois ainda estavam juntos quando escreveram o filme, porém nesta parceria Laís tomou as rédeas da criação.

Nesta entrevista, a diretora ao lado da atriz Maria Ribeiro defende algumas ideias. Uma delas é que o atual formato herdado de estrutura familiar não funciona mais para a nossa sociedade contemporânea. Embora não proponha uma solução, Bodanzsky cita a metáfora de Maria Rita Kehl: as relações hoje são como um cobertor curto com quem você precisa dividir. Se por um lado, quem pega esse cobertor sente-se bem, por outro, quem não o pega, sente-se desconfortável. Para a diretora, as relações hoje precisam de uma nova forma de equilíbrio. Maria Ribeiro, por outro lado, admite que ter feito o papel de Rosa foi como interpretar a si mesma, com uma única diferença: se Rosa tem duas filhas, na vida pessoal Maria tem dois filhos. Ela crer que pouco importa se ao fim Rosa ficou com Dado (Paulo Vilhena) ou Pedro (Felipe Rocha). O mais importante é que ela sempre ficou ao lado das filhas.

A peça Casa de Bonecas, escrita por Henrilk Ibsen em 1879, é citada no longa. Laís admite que a ideia de mencioná-la no filme aconteceu por influência de Maria Rita Kehl.

Neste bate-papo com a atriz Andréia Horta, Laís afirma que o título do filme nasceu da música homônima de Belchior. Admite que o plano inicial era Paulo Vilhena interpretar Pedro, o amante, mas mudou de ideia e deu ao ator sua primeira chance de interpretar um personagem pai no cinema. Maria Ribeiro conta que sua cena favorita é uma conversa de sua personagem Rosa com o seu irmão Cacau (Cazé).

Abaixo, eu escolhi quatro cenas de Como Nossos Pais para exemplificar a gramática audiovisual empregada. Há um pouco de decupagem, melodrama e verossimilhança. As cenas estão disponíveis em meu Twitter.


blog O cinema Sallva, abril 2022, Como Nossos Pais (BRA,2017)

1) Nesta cena de 53'' de duração, a decupagem é trabalhada com um único plano a partir do fogão alternando o foco da panela para a mesa ao fundo de acordo com a ação dos personagens.


blog O cinema Sallva, abril 2022, Como Nossos Pais (BRA,2017)

2) Nesta sequência de 2'20'', o melodrama é construído a partir de uma ação intensa fundada em desconhecimentos e confusão de identidade. Rosa (Maria Ribeiro) dá uma indireta à mãe afirmando ser severa com as filhas pela criação dela. Em seguida, a mãe (Clarisse Abujamra) traz à tona uma forte revelação: o pai de Rosa não é quem a filha pensa ser. Instaura-e um drama que atinge o irmão (Cazé) e o marido (Paulo Vilhena). A situação é tão constrangedora que as filhas são retiradas do local.


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3) Nesta sequência de 3'02'', Rosa desperta logo cedo ao lado de seu marido Dado. Ele não se levanta da cama, enquanto Rosa cumpre a função cotidiana de acordar as filhas para o café da manhã. O melodrama é instaurado aqui quando a filha questiona a mãe sobre a bicicleta na sala, com a qual ela quer ir para a escola e a mãe a proibe. Elas discutem até a mãe acalmar a filha e abraçá-la.


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4) Nesta sequência verossímil de 1'11'', Rosa rega as plantas do jardim da casa da mãe junto às filhas. Em seguida, elas caminham de bicicleta até a escola. Uma curiosidade: o Colégio Equipe enquadrado no fim da sequência é uma escola real localizada no bairro de Higienópolis, em São Paulo.


blog O cinema Sallva, abril 2022, Como Nossos Pais (BRA,2017)

(BRA, 2017)

1h42min

roteiro Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi

direção Laís Bodanzky

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