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Verossimilhança


blog O cinema Sallva, janeiro 2022, Verossimilhança

A verossimilhança é um conceito dramatúrgico antigo, que remonta à Poética, de Aristóteles. Ele dominou o período dito clássico do teatro e influenciou as diferentes concepções de roteiro de filme.


É verossímil tudo o que tem aspecto da verdade e tudo o que é provável.

Na dramaturgia clássica, é verossímil o que parece verdadeiro ao espectador seja nas ações, nas personagens e na representação. O respeito ao verossímil impõe inventar uma ficção e motivações que produzirão o efeito e a ilusão de realidade.

A regra da verossimilhança vale sobretudo para uma dramaturgia normativa, fundada na ilusão, na razão e na universalidade dos conflitos e dos comportamentos. É fato que não há em si verossimilhança imutável que se possa definir de uma só vez. O verossímil é apenas um conjunto de codificações e de normas ideológicas, ligadas a um momento histórico.

No cinema, o verossímil concerne à representação e à narração. O mundo representado é verossímil se estiver conforme à imagem que o espectador pode fazer do mundo real. Quanto à narrativa, seu modo verossímil repousa, por um lado, em princípios gerais (causalidade e de não contradição), por outro, em convenções de gênero e nas regras implícitas que elas pressupõem.



O Tradutor (2018), dirigido pelos irmãos Rodrigo Barriuso e Sebastián Barriuso, é baseado numa história verídica do pai deles, Manuel Barriuso, que é representado no personagem Malin (Rodrigo Santoro). Ele é um professor de literatura russa que, obrigado pelo governo cubano, trabalha como tradutor na ala infantil de um hospital de Havana. Acompanhamos Malin tentando se adaptar à nova realidade no trabalho ao passo que lida com Isona (Yoandra Suárez), sua esposa que está grávida à espera do segundo filho deles. Nesta cena, Isona anuncia a gravidez para Malin durante a rotina doméstica do casal. Um exemplo clássico de veorissimilhança.



Cão Sem Dono (2007), dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, é uma adaptação do livro Até o Dia em que o Cão Morreu, de Daniel Galera. Vemos a história de Ciro (Júlio Andrade), um jovem recém formado em letras. Ele trabalha como tradutor e convive com um cachorro chamado Churras. Ciro vive em crise, após conhecer Marcela (Tainá Müller), uma modelo vítima de doença terminal. O longa é marcado tanto por verossimilhanças das situações como também pela naturalidade dos personagens, como nesta cena, quando Ciro almoça com os pais enquanto assistimos à conversa entre eles em um único plano.



Dirigido por Laís Bodanzky, Como Nossos Pais (2017) é centrado em Rosa (Maria Ribeiro), uma mulher adulta numa fase difícil de vida, marcada por conflitos pessoais e geracionais. Ela descobre, por meio de sua mãe (Clarisse Abujamra), que seu pai não é biológico. Rosa passa a enfrentar diversas crises com suas filhas, seu marido Dado (Paulo Vilhena), colegas de trabalho e chefe. Nesta cena, vemos o verossímil quando o longa expõe o cotidiano matutino de Rosa com as filhas.



Setembro (1987), escrito e dirigido por Woody Allen, é uma espécie de cine-peça. O enredo intimista expõe a vida de seis pessoas dentro de uma casa no estado de Vermont, nos Estados Unidos, em fins de agosto. Temos Lane (Mia Farrow), uma mulher sensível que decidiu regressar a Vermont para recuperar-se de problemas pessoais. Ela aluga o chalé da casa para um aspirante a escritor, Peter (Sam Waterston), por quem se apaixonara de maneira não correspondida. Ele, por sua vez, apaixona-se por Stephanie (Dianne Wiest), melhor amiga de Lane, que passe as férias de verão na casa. Um vizinho da propriedade, Howard (Denholm Elliott), sofre por amar Lane e não ser correspondido. Completam o elenco a mãe de Lane (Elaine Stritch) e seu novo marido (Jack Warren). O verossímil no filme está na exposição do conflito de interesses como nesta cena, quando Lane fica aborrecida ao saber que sua mãe desistiu de vender a casa em Vermont.


4 Filmes Verossímeis


blog O cinema Sallva, janeiro 2022, Verossimilhança

1. Setembro, Woody Allen (EUA, 1987)

2. Cão Sem Dono, Beto Brant e Renato Ciasca (BRA, 2007)

3. Como Nossos Pais, Laís Bodanzky (BRA, 2017)

4. O Tradutor, Rodrigo Barriuso e Sebastián Barriuso (CAN-CUB, 2018)

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