O crítico francês André Bazin foi um dos criadores da Cahiers du Cinéma, revista sobre cinema editada na França em 1951. Embora não seja autor de nenhum livro, ele escreveu várias coletâneas de artigos, sendo que a mais representativa e mais interessante pelas ideias teóricas nela expostas é a antologia Qu'est-ce que le cinéma?.

Influenciado pelo existencialismo de Sartre, Bazin considera a arte um momento crucial no esforço psicológico do homem para ultrapassar suas condições reais de existência. Ligando ontologia e história das artes figurativas, ele lê na fotografia um momento essencial dessa história como impressão literal do real. Já o cinema realiza cada vez melhor a impressão não apenas do espaço real como da duração. A fotografia e o cinema, portanto, "prestam homenagem ao mundo tal como ele aparece".
Em razão desse comprometimento com o real, Bazin condena, como contrária à natureza do cinema, qualquer intervenção excessiva, qualquer manipulação, qualquer "trapaça", que atentaria contra a integridade do real representado. Isso o leva a "proibir" a montagem em todos os casos em que sua utilização produzisse um sentido unívoco demais, imposto pela arbitrariedade do cineasta, em detrimento da ambiguidade imanente ao real. Estilos fundados no plano-sequência e na profundidade de campo são os favoritos de Bazin.
Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, por exemplo, é notoriamente reconhecido como uma obra predominantemente rodada em plano-sequência. São planos tão extensos e bem decupados que os pontos de corte são quase imperceptíveis na quase 1h20' de duração do longa.
O Jogador (1992), dirigido por Robert Altman, apresenta um impressionante plano-sequência rodado com gruas de precisamente 8'30'' de duração.
Essas duas obras ajudam a ilustrar o que de fato é o plano-sequência: um plano bastante longo e articulado para representar o equivalente de uma sequência. Para a reflexão teórica, especialmente sobre a montagem, o plano-sequência sempre foi um objeto incômodo; ele obriga a admitir que pode haver montagem no interior de um plano
Observe o caso de O Invasor (2002), filme brasileiro dirigido por Beto Brant. Assim como os supracitados, a obra de Brant inicia-se com um plano-sequência com uma diferença: os personagens interagem com a câmera e atuam olhando para a lente. O longa reserva outros planos-sequência como este em há a participação do saudoso Sabotage.
No entanto, é bom lembrar que o plano-sequência não é tão "realista" e "transparente" quanto Bazin havia acreditado, já que seu valor depende das normas estéticas em vigor. O vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, O Segredo de Seus Olhos (2009), de Juan José Campanella, expõe esse dilema no aclamado plano-sequência num estádio de futebol em Avellaneda, Argentina. Nos cinco minutos de duração, o plano percorre o estádio usando o recurso de drone, funde-se com a câmera na mão operada já na arquibancada e então percorre os atores até o fim da perseguição. Veja aqui o belo trabalho de Campanella.
4 Filmes com Plano-Sequência

1. Festim Diabólico, Alfred Hitchcock (EUA, 1948)
2. O Jogador, Robert Altman (EUA, 1992)
3. O Invasor, Beto Brant (BRA, 2002)
4. O Segredo dos Seus Olhos, Juan José Campanella (ARG, 2009)